Ao telefone ...
- Alô...
- Alô...
- Você está me ouvindo?!
- Alô ... não... não tô te ouvindo...
- Ahh... tá bom então... depois eu te ligo
- Tudo bem ... até mais
- Tchau.
- Alô...
Amélia era uma garota romântica, educada, delicada e estudiosa, enfim, só escolhi esse nome pra fazer aquele péssimo trocadilho e dizer que "Amélia não tinha a menor vaidade, Amélia que era mulher de verdade e. . . bom, chega dessa porra. Como todas as outras mulheres, ela ainda esperava o príncipe encantado que iria encontrá-la no seu (dele, seu cavalo!) cavalo branco e beijá-la-ia e viveriam felizes até que ela ficasse gorda, chata e começasse a implicar com a cerveja e o futebol nos finais de semana, além da toalha molhada em cima da cama e a tampa do vaso levantada, mas isso é outra história. Amélia esperou, esperou, esperou, sentada, deitada, esperou, esperou e esperou, agora fala rápido: peroz, peroz, peroz. Viu? A pronúncia não é a mesma? É. . . nessa eu me superei, voltemos a Amélia. Cansada de tanto esperar na frente da TV assistindo a novela das oito e engordando, resolveu sair à procura da sua alma gêmea, da outra metade da laranja, da cara-metade, resumindo, de um idiota para casar com ela. Mas as coisas não eram tão fáceis como imaginara. Conheceu vários homens e percebeu que todos só queriam a mesma coisa: sexo. Mesmo assim, continuou tentando. Depois de ouvir de muitos deles, quando iam discutir a relação a seguinte frase: senta, analisa e pensa, decidiu desistir da busca e fazer valer o ditado: "se não pode com o inimigo, junte se a ele."Não! Ela não virou sapatão. Enfiou a cabeça, digo, colocou na cabeça que se era sexo que eles queriam, era sexo o que teriam. E conheceu vários homens, com os quais mantinha relações descompromissadas, apenas sexo, como planejara. E viu que isso era bom. Viu que isso a livrou de toda aquela história de desconfianças, de ciúmes, explicações sobre batom na cueca ou perfume de mulher, desculpas envolvendo um sequestro alienígena e todas as estaparfudias conversas inventadas pelo compromisso. Contou o fato as amigas que desejaram experimentar essa nova concepção. Passado o período experimental, reuniram-se para discutir a conclusão de cada uma. E todas tinham o mesmo resultado: era bom, na verdade, muito bom. Criaram uma espécie de clube, que a cada dia recebia mais e mais adeptas ao estilo neowomanpansexualultragainstman, e uma das principais regras do clube, era a mesma usada pela mulheres de vida fácil, que de fácil não tem nada, não se envolver sentimentalmente. E como numa epidemia, isso deixou de ser restrito às mulheres da irmandade, aderindo todas as mulheres do mundo. Nenhuma delas queira saber de amor, paixão, romance. Apenas sexo, só o contato entre gêneros diferentes. Aos poucos, as empresas relacionadas ao fomento do amor, foram desaparecendo. Primeiro as floriculturas, depois os serviços de mensagens (quem dera!), as lojas de presentes. Estendendo-se aos programas de televisão, cinema, telenovelas. Até que o homem se deu conta de que não precisava mais azarar, paquerar, fazer jogos, enfim, descobriu que elas pensavam tão ou mais simplesmente do que eles, se estavam interessados em alguém , não seria necessário todas aquelas difíceis etapas, homens e mulheres queimavam etapas e partiam direto ao objetivo final contido no instinto humano e tão hipócritamente escondido pela sociedade. E os homens, percebendo a situação, deram-se conta da inutilidade do trabalho sem os fins alimentares. E se perguntavam: Para quê ter um carro, casa, dinheiro, roupas e status, se elas só querem prazer e nos dar um pé na bunda quando enjoarem? As consequências foram escatológicas, ou melhor, catastróficas. O homem quase voltou ao período feudal, a agricultura de subsistência passou a ser cotidiano do homem, como engenheiros, advogados, médicos, ginecologistas, presidentes. O caos estava instaurado. As economias foram se desfazendo. Os chefes de estado que tinham bombas nucleares para sentir o poder entre as pernas, não careciam mais delas. Em todo o lugar era possível ver milhares de Homo futeboles e Homo alcooles se embriagando, jogando futebol, brigando. Mas a situação extremou-se quando a bebida foi acabando, os homens não queriam saber de trabalho e sem trabalho não havia produção de bebidas. Sem bebidas, televisão e com a libertinagem aflorada, a população teve seu crescimento assustadoramente acelerado; orgias, bacanais, doenças, tudo se encaminhava para destruição da humanidade, com exceção das orgias e bacanais, que isso fique bem claro. Então, Amélia compreendeu a dimensão que as coisas chegaram, reuniu as fundadoras e principais colaboradoras responsáveis pelo início daquele que era apenas um clube e tomou uma decisão: era preciso fazer as mulheres voltarem a pensar em casamento, amor , paixão, romance. Organizou um grande encontro para defender sua idéias contrárias ao que tinha proposto. Todas vieram ouvi-la, visto que, era considerada um marco da transformação contemporânea pós-modernista atualmente dos tempos atuais dos dias de hoje. Mas, para sua surpresa, nenhuma daquelas mulheres que se encontravam ali na sua frente, pretendiam retomar pensamentos ultrapassados. Todas se uniram contra o seu agora antigo símbolo: Amélia. Prenderam-na, cortaram-lhe o cabaço, digo, a cabeça. Enviaram pedaços do seu corpo aos quatros cantos do mundo, não sei como, se o mundo é redondo, mas o que importa é que mandaram como forma de aviso a qualquer opositor da nova era global. E assim, o mundo parou e a humanidade desapareceu por causa das guerras por bebidas, brigas no campo de futebol e doenças, exatamente três dias após Amélia contar as suas amigas a sua falsa e presunçosa descoberta.
Manaus: no meio da casa do caralho, nas pregas do cu mundo, passando do lugar onde começou a aparecer calos nos pés do Judas de tanto andar. Tudo bem que ela tem quase 2 milhões de habitantes, que pode ser considerado uma metrópole e que aqui tenha tudo o que existe em qualquer centro urbano, embora o pessoal lá de baixo, alguns por pura ignorância, pensem o contrário. Enfim, todos os dias passo por um viaduto com uma pichação em um local quase inacessível com a frase: Fora Bush! Não fosse o trabalho para chegar a esse local e se expressar (?), visto que, para os pichadores importa mais a inacessibilidade (caraleo!) do que o próprio texto escrito, a epopéia não serve para nada (e não serve mesmo!) eu diria que essa forma de expressão é tão importante para nosso crescimento intelectual quanto o Dedé e o Comando Maluco. O cara sai de madrugada, corre o risco de cair e se fuder ou de ser pego pela polícia e ser fodido e gasta dinheiro comprando o spray para escrever Fora Bush, o Bush deve estar cortando os pulsos ou querendo pular da estátua da liberdade de cabeça ou até se trancando amarrado, pelado,vendado e com uma maçã na boca dentro da cela do Saddam de tanto medo de perder a presidência. Se quiser se expressar, compra uma passagem pra New York e quando estiver sobrevoando o Empire Center, toma o avião, diz que tem uma bomba, engole a bomba, tira a roupa e se joga de bunda na antena do prédio gritando FORA BUSH! Quero ver se não vão te dar atenção, isso eu quero ver. Dizcupos palavrões.